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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Devaneios de uma mente gorda

Olho a mesa ao lado de canto de olho, inconformada, sempre fico pensando que tipo de pessoa larga um queijo brie quentinho com um molho de trufas pra trás? Sério! Isso aconteceu na semana passada e eu continuo indignada só de lembrar. A dupla que estava sentada ao nosso lado no restaurante largou pra trás tranquilamente metade dessa entrada, que vinha servida com pedaços de pão quentinho.

Por mais que eu tente comer menos, por mais que eu saia de casa determinada a só comer o prato principal, tem certas coisas que eu não tenho maturidade, e queijo brie é uma delas... E eu fatalmente pergunto pro Renato como quem não quer nada "você vai querer entrada?" torcendo pra que ele queira rsrsrs. E ele quis, e brigamos pelo último pedaço de pão que ainda estava quentinho, porque sou dessas que come rápido pra não esfriar.

Pra além do queijo, quase sempre eu tenho essa reação quando largam porções pra inacabadas. Não me identifico com esse tipo de gente que pede uma porção de bolinho de arroz e deixa um ou dois pra trás esfriando pra todo o sempre. Mano! Devia ser proibido isso. Aquele bolinho quentinho e crocante, feito pra comer na hora tomando alguma coisinha e o ser humano pede e não come tudo? Não posso com isso!

Eu gosto de gente que come, e gosto de carboidrato, e gosto dele principalmente a noite [sim, isso explica algumas circunferências kkkkk]. Gosto de gente que valoriza a comida, e que em respeito a comida se delicia de verdade comendo o queijo brie quentinho e raspando o molho de trufas no último pedacinho brigado de pão.

Não gosto de esperar uma conversa terminar pra começar a comer um prato que acabou de chegar a mesa, quentinho. E detesto ver gente tomando sorvete devagar, enquanto ele derrete inteiro, ah, que falta de poesia....

Foi apenas um desabafo de uma mente eternamente gorda, que felizmente está dentro de um corpo que gosta de exercícios e tem disciplina, e que só por esse motivo não é obesa como os pensamentos. =)

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Minha história com a Rita Lobo

Eu sempre acho que as coisas que passam pela minha cabeça são irrelevantes para as pessoas. Tenho um insight e penso 'quem iria se importar com essa história?'. Pra que escrever sobre isso? Quem vai querer ler? Fico pensando que nem tenho tanta profundidade pra falar de certos temas. Fico remoendo um início de texto enquanto escovo os dentes, ou enquanto dirijo, ou picando ingredientes pra uma receita. Por algum motivo eu deixo passar (na maioria das vezes) e ai esse blog fica assim paradinho, quando na verdade minha cabeça tá com um milhão de temas...

Só que hoje eu assisti a um episódio da Cozinha Prática com a Rita Lobo em que ela divide memórias da família. O personagem de hoje foi seu avô e ela mencionou coisas que poderiam ter sido ditas por mim dada a semelhança do que ela descreveu. E não por nada específico, não por sermos as duas descendentes de italianos, ou porque eu gosto de cozinhar, mas talvez porque ela tivesse pelo avô dela o mesmo amor que tive pelos meus. Ela foi cativada por ele com o mesmo amor leve com que meus avôs me cativaram. Isso é tão simples, isso é tão grande, isso é tão humano. Como não se identificar? Como não querer ver o episódio todo? Chorei.

Ela disse mais ou menos assim:

"Ele foi a pessoa mais feliz que eu conheci, e olha que sorte ele ser meu avô"
"Com o vovô eu aprendi a tomar café bem forte de manhã... e tomar vinho com as refeições..."

A pessoa mais feliz que eu conheci foi meu avô Sebastião. O mais bem humorado e o abraço risonho de que mais sinto saudade. E café tem que ser forte, né? Nada de água de batata, já diria Lauro Pesente... E toda vez que eu dou o primeiro gole de um vinho tinto eu também lembro dele... Vovô Lauro, a presença de que mais sinto falta.

Chorei de novo.

No fim acho que é isso, a vida é muito mais simples do que eu fico imaginando. As pessoas são muito mais normais e se interessam sim pelo trivial. Assim como eu gostei de me ver representada na TV é bem capaz que alguém se sinta representado no que eu escrevo. E quem sabe a Ana Holanda estivesse mesmo certa quando certa vez disse 'continuem escrevendo', 'a sua história tem sim valor'.


segunda-feira, 24 de julho de 2017

"YOU WISH"

Hoje eu fui a academia e lá vi uma mulher que tem um corpo que eu acho lindo. Na verdade tem várias mulheres com corpos bonitos por lá, mas tem uma que eu acho mais gata - to falando de corpo bonito, malhado, bronzeado. Dessas mulheres normais, que trabalham e fazem academia e certamente fazem dieta.

Quando eu vejo essa mulher eu penso "nossa, queria ter o corpo igual ao dela". Só que hoje essa mulher estava usando uma camiseta com o seguinte dizer "YOU WISH".

A camiseta dela estava falando comigo. kkkkk. Sim eu queria ter aquele corpo, fácil que eu queria. Mas será que eu queria ter a rotina dela? Será que eu queria o suficiente?

É fácil olhar a grama do outro e perceber como é verde, verdinha! É fácil querer tudo, e querer que seja fácil e rápido. Só que no geral não é fácil porque as coisas precisam ser construídas e na maioria das vezes exige o mínimo de dedicação....

É o mesmo caso de gente que vê os quilos que minha irmã emagreceu e diz pra ela "nossa eu queria ter a sua disciplina e ir a academia todo dia" - [que tal acordar as 5h da manhã como ela e ir a academia? Que tal preparar as marmitas da semana? Que tal se planejar?]

Ou dos amigos passaram na USP e ouviram na época "nossa, que sorte que você passou numa faculdade que não é paga" [Muita sorte é claro. Não é que a pessoa estudou loucamente. Não é que teve disciplina e leu todos aqueles livros obrigatórios... Foi sorte apenas, é claro]

Etc, etc, etc.

São diversos os exemplos de coisas que as pessoas dizem que querem muito, fazem cara de dó, se colocam como vítima dessa vida cruel e sacana, quando na verdade elas não partem para a ação. E continuam fingindo que querem e a vida fingindo que acredita.

Claro que eu tenho um monte de quereres superficiais, claro que eu sei que me saboto um monte de vezes... E isso é fundamental pra eu não me colocar num papel de vítima. E apenas retornando ao corpo seco da mulher gata da academia: eu queria ter aquele % de gordura baixinho, mas não queria parar de comer e beber. Na verdade todos os dias da vida eu quero ser mais disciplinada, mas na hora do Gin Tônica do fim de semana, na hora do hamburger sangrando, na hora do brie com geléia, entre outros, eu como mesmo. Então eu concluo que se eu prefiro comer e beber é porque eu quero mais comer e beber do que ser sarada. Pronto. Mas ja houve o tempo em que eu ia ao endocrino e secretamente torcia para haver algum problema na minha tireóide. Tenho vergonha disso, mas é verdade. Então hoje, eu sei que sou responsável por (também) isso, e não fico colocando a culpa na genética, nos padrões da moda, na minha altura, bla bla bla...

sábado, 22 de julho de 2017

A tranquilidade de não refletir sobre certos temas

Amiga 1: Nossa Gabis, você tem muita cara de maconheira. Você jura que você não fuma?
Google Images: veja
Gabi: Não, não fumo. Não quero fazer parte do tráfico.
Amiga 1: kkkkkkkk
Gabi: To falando sério.
Amiga 1: Como assim?
Gabi: Não quero ser o "playboyzinho da zona sul" (me referindo à cena do filme Tropa de Elite).
Amiga 1: kkkkkk, é serio isso?
Gabi: Sim, é sério isso. Quando você consome algo você está financiando o produto em si, seja lá de que forma que esse produto chega até você.
Amiga 1: Ah, ta... Mas quando eu fumo eu não vou comprar na boca não...
Gabi: Hum, então você planta? [que por um acaso até onde eu sei também pode ser considerado tráfico no Brasil]
Amiga 2: Ah, kkkk, pra Gabis consumir tem que ser orgânico.
Gabi: Não gente, pra eu consumir tem que não ser tráfico, não importa quem compra, importa que tem gente que tá fazendo isso, importa que tem criança aviãozinho, importa que tem traficante no meio.

Silêncio.

E não foi sempre assim. Realmente eu assisti Tropa de Elite no cinema e me senti no lugar do Playboyzinho da Zona Sul. Nunca mais fumei.
Não que eu fosse compradora, ou super consumidora de maconha. Já fumei sim. Poucas vezes e sempre de amigos... Mas pra mim não tem diferença de fumar de amigo, de ir comprar na boca, ou sei lá o que. Tem diferença de plantar em casa, envolve menos gente, mas ainda assim tá errado [de acordo com a lei do Brasil]. Não quero ser uma peça desse jogo onde muita gente inocente morre.

Essa opção é minha. Cada um faz o que quer. E nem gosto tanto assim te maconha na verdade. Dá sono. Mas fiquei meio impressionada com o fato de que essa minha postura pareceu uma surpresa e provocou risos em pessoas que estão ao meu redor. Tráfico é um tema tão delicado, um tema que mata tanta gente, um tema que ninguém quer estar envolvido, só que está. Period.

terça-feira, 11 de julho de 2017

Relacionamentos: uma ou outra reflexão

Não sei qual foi a primeira vez que escutei um homem dizer "nossa, se eu não fosse comprometido eu namorava com ela" ou, "ah se eu não fosse casado eu ia pegar tal mulher". Apesar de não lembrar quando foi a primeira vez que eu ouvi isso eu me lembro a primeira vez que isso me incomodou muito, faz mais de 10 anos. Eu tinha 20 e poucos anos, aquela idade em que a auto-estima não é das melhores, mas felizmente meu gênio sempre foi forte, sempre fui ardida, e questionava "opa, peraí, mas não é só você que tem que querer, bonitão".

Pode me chamar de louca, mas tá aí mais uma situação machista pra caramba que a gente escuta o tempo todo. E quando o tema é machismo, eu que sempre fui facilmente irritável e intensa nas discussões, vou em frente, em frente, em frente. Não evito confronto sobre esse tema que é extremamente importante, e extremamente atual, e todo mundo se diz a favor da igualdade de gêneros, mas nem todo mundo vive isso.

O lance é que por trás dessa frase está declarado - na minha opinião - que quem tem a decisão da escolha numa relação é o homem. E aqui obviamente estou generalizando, até porque não é todo homem que fala essa frase. Estou falando de uma turma, que me parece a maioria, mas é claro que não é todo mundo assim, nem todos pensam que quem escolhe a princesa é o homem.

A princesa indefesa que precisa tomar cuidado com o que fala, que não pode dar de primeira, ou que não tem amigos homens, que não pega no pé, e que preferencialmente não bebe muito. Entre outras situações que nem preciso elencar aqui. Imaginem só que calamidade se a mulher faz alguma dessas coisas e acaba não sendo escolhida, porque afinal, não é um material "namorável" ou "casável". Afe, que preguiça.

A verdade é que os homens só tem essa postura porque as mulheres deixam eles terem. Os meninos são ensinados desde crianças a serem machistas, e as meninas também. E ai cresce um monte de adulto com a cabeça fraca, com uma relação de superioridade que não é real. Cresce um monte de mulher que acha que precisa ser escolhida. Cresce um monte de cara achando que a coisa mais natural do mundo é escolher.

E como as mulheres deixam os caras continuam fazendo, e as mulheres não entendem o que está errado. Começa uma crise pra entender o que será que significa a mensagem de whatsapp. Ou a saga das cartomantes, ou a busca pelo signo ideal, ou variações do tom de voz...

Um desgaste.

Homens e mulheres esquecem que é preciso que os dois se escolham.

Então lembro da minha avó que sempre me disse pra eu me valorizar. E claro que o que ela quis me dizer todo mundo entendeu... Mas que tal pensar no sentido amplo do conselho? Valorizar, no dicionário: dar valor, importância a (algo, alguém ou a si próprio), ou reconhecer-lhe o valor que é dotado. Se dar valor, se reconhecer, se dar importância.

Acabo de ler um livro lindo da Milly Lacombe que fala muito de amor próprio. O Ano Em Que Morri em Nova York me fez refletir muito, sobre muitas coisas, sobre relacionamento, sobre a vida, sobre expectativas. Mas me fez refletir mais ainda, pela história da Milly, sobre o amor próprio. Sobre ser sua melhor escolha.

Esse livro é de uma mulher lésbica, sendo assim machismo não é um termo que se encaixe perfeitamente, mas foi o que me deu o click pra escrever esse texto que é um mix de rebeldia contra o machismo e uma reflexão sobre amor próprio. Muita gente pode não ver a conexão desses dois temas, mas quando falo de relacionamento entre homens e mulheres eu acho que tem muito a ver. E acho que esse click que aconteceu pra mim pode acontecer pra quem está lendo agora, pra repensar nessas situações que a gente permite, nessas mensagens camufladas, e principalmente pra reforçar sempre nosso valor. Reflexão não depende de gênero, amor próprio também não.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Sim ao 'não'

Lembro de uma vez ter comentado com alguma amiga que eu tive apenas uma boneca Barbie quando era pequena. Ela fez uma cara de espanto e perguntou: por que? E eu respondi simplesmente que eu tinha tido apenas uma Barbie porque não tínhamos grana pra eu ter mais de uma. Uma minha e uma da Rafa. Meus pais trouxeram de fora, da única viagem internacional que tinham feito até aquela data. Meu pai devia ter uns 30 anos, com duas filhas, devia ajudar os pais financeiramente. Minha mãe era professora. A gente estudava em escola particular, tinha clube, ia pra Santos sempre ver os avós e tinha apenas uma Barbie cada.

Do Google Images
Eu ouvi diversos "nãos" na minha infância. Pra coisas e pra atitudes. Eu fui a típica criança que "não é todo mundo". Eu não tinha todos os brinquedos, eu não tinha feito viagem internacional, eu não podia dormir na casa de amiguinhos, eu não podia ir mal na escola, eu não podia deixar de visitar os avós, eu não tinha roupa de marca (minha primeira foi da Pakalolo porque meus avós me deram de presente) e nem tênis de marca (o primeiro eu juntei todos os dinheiros que ganhei de presente na vida e comprei um New Balance na World Tenis). Eu não tive aquela boneca que dá pra maquiar, nem a Lu patinadora, e nem o pogobol. Eu não ganhei o Smurf que meu pai sempre me prometia - sacanagem pra caramba isso. Não tive festa no Mc, nem em nenhum buffet. Eu não tenho nenhum trauma por isso. Zero.

E eu cresci sabendo que eu não podia ter várias coisas e isso nunca foi um drama pra mim. Eu sabia que tinha um monte de coisas que outras pessoas não podiam ter. Eu já tinha ido na casa daquela faxineira que mencionei nesse post aqui. Eu via que nem todo mundo podia ter as mesmas coisas. Não lembro de meus pais sofrerem por isso, porque eles que me ensinaram que a vida era assim, e então tava tudo bem.

Com exceção do Smurf - que eu ainda acho muita sacanagem do meu pai - eu sabia sempre porque eu recebia os "nãos", porque era muito caro, porque eu tinha casa e não precisava dormir fora, porque família é a coisa mais importante, porque estar na média não vai te levar a lugar nenhum, porque um dia você vai sentir saudades dos seus avós, porque você não é todo mundo... Clássico!

Só que hoje numa conversa com uma mãe me veio de novo essa reflexão. Claro que não sem uns atritos, porque como dizem "eu sou muito firme nas minhas posições". Basicamente eu contestava o fato de um filho pedir uma coisa e a mãe se sentir na obrigação de atender o pedido. E claro que, como eu não tenho filhos ainda recebi aquela 'praguinha': "quando você for mãe você vai querer dar tudo pro seu filho, o que você tem e o que você não tem", me dizia a mãe.

Será?

Tomei um banho... Continuei pensando. Será que vou querer dar tudo? Será que vou queimar minha língua? E não resisti. Mandei uma mensagem pra minha mãe: "mãe, hoje a tarde tive uma conversa assim assado, falei isso e aquilo e a resposta foi que quando eu for mãe eu vou saber o que é querer dar tudo pra um filho. O que eu posso e o que eu não posso. Mãe, eu to doida por achar que as crianças não tem que dominar os pais?"

E a resposta de pertencimento que acalma meu coração e me mostra que eu realmente sai daquela barriga: "Não está louca não. Hoje em dia parece que tudo está diferente. A criação, sei lá".

Minha mãe também não se conforma com o tanto de "personalidade" que as crianças tem, e muitas vezes acha que hoje em dia "os pais são muito moles" rsrsrs. Bom, ela tem três filhos e ela pode falar. Eu só posso por aspas no que ela fala.

Concordamos que os nãos surgirão mais cedo ou mais tarde, e na nossa opinião é melhor começar a escutar os "nãos" em casa e começar a lidar com eles desde sempre. Certamente vida não será tão gentil quanto os pais podem ser ao dizer a palavrinha chata que escutaremos pra sempre nessa vida.

terça-feira, 23 de maio de 2017

A primeira vez que percebi ser privilegiada

Eu devia ter menos de 10 anos quando meu pai decidiu num final de dia qualquer que levaria a nossa faxineira até a casa dela depois do trabalho. Ele decidiu também que eu e a minha irmã mais nova iríamos junto. E fomos. E fomos convidados a entrar e tomar um café. E fomos. Naquele dia qualquer meu pai mostrou pra mim e pra minha irmã que a vida que a gente vivia não era a mesma vida que as filhas da nossa faxineira viviam.

Lembro de ser longe, e de ser no alto. Não me lembro muito de asfalto. Lembro até hoje de flashes da casa. Não tinha acabamento em tudo, na verdade me lembro de tijolos e cimento, e não de detalhes. Tinha um cheiro de umidade, que é diferente de sujeira, que fique claro. O mais próximo que consigo descrever é o cheiro de uma casa em construção. Além do cheiro de umidade.

Nesse dia eu tive, pela primeira vez, consciência de que era uma pessoa privilegiada. Meu pai sabia muito bem o que ele estava fazendo, e tenho certeza que foi uma das melhores coisas que ele fez pra minha formação como pessoa. Em casa ele perguntou o que a gente tinha achado da casa da nossa faxineira. Lembro de ter vergonha de dizer que não achei legal. Eu insistia em dizer que era uma boa casa. Isso não saiu mais da minha cabeça. Eu sabia que a minha casa era muito diferente da casa dela. Eu queria não ver, mas com 10 anos eu já sabia que a vida de verdade não tinha as grades altas como na minha casa.

A verdade é que eu não precisaria ter ido longe pra perceber como a minha vida era ótima. Bastaria olhar o álbum de fotos da infância do meu pai e tios, ou conversar com o meu avô Sebastião, que não sentia saudades de ser criança porque "passou muito frio e fome" naquela época. Frio e fome...

Frio que a gente passa quando viaja pra neve.

Fome que a gente sente quanto faz dieta pra perder uns quilinhos.

Minha consciência sobre esse tema parece só aumentar. Talvez eu esteja ficando mais velha e olhando mais ao redor. Talvez eu esteja ficando mais velha e procure mais sentido nas coisas. Talvez eu esteja apenas despertando mais e mais para esse mundo absurdamente desigual em que vivemos.

Fiquei três semanas cozinhando esse texto porque eu não sabia onde eu queria chegar com ele. Não conseguia falar direito sobre meritocracia, a tal falada palavra da moda. Não achava nada muito relevante na minha experiência para aprofundar o tema até que hoje leio o post abaixo da TPM e acho que se encaixa exatamente onde eu queria chegar: na consciência de que somos privilegiados para caramba. Sim, nós: eu e você que está lendo esse texto pela internet no conforto do seu lar, ou no ar condicionado no escritório pelo seu smartphone. Mais que privilegiados somos responsáveis por querer diminuir a desigualdade absurda que temos no Brasil. Somos responsáveis sim. E sei que quem está lendo isso não é burro e entendeu bem o que eu escrevi: somos responsáveis pelas nossas atitudes que contribuem ou não para a desigualdade no nosso país. Ponto.

SOBRE SER UMA NEGRA COM PRIVILÉGIOS
Por Stephanie Ribeiro

"Em 2015, o Tulio, meu parceiro, escreveu o artigo "Você é racista – só não sabe disso ainda" com um ponto que causou muito desconforto nas minhas redes sociais quando compartilhei. Ele dizia exatamente isso: "Ter privilégios significa usufruir de oportunidades e escolhas sem ter que pensar sobre isso, como ligar a torneira de casa para ter água. Decisões que parecem banais, mas não são, por causa da existência de um conjunto de indivíduos da mesma sociedade que não têm as mesmas oportunidades".
A palavra privilégio incomoda. É perceptível, quando alguém se vê diante dos seus privilégios, que a pessoa tende a ficar na defensiva. Contudo, a palavra não incomoda mais do que o fato de estarmos numa sociedade extremamente desigual em que ter privilégio é também visto como banal.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Raiz ou Nutella?

Eu já quis transformar a minha vida numa planilha. Nunca fui magra e sarada, sempre, todos os dias da minha vida eu quis ter 14% de gordura (aquele da balança maledeta). Houve momentos em que pensava que só vivendo numa planilha de treinos e dieta eu alcançaria isso e seria muito feliz. Há. Hoje eu tenho certeza que 14% pra mim é só assim mesmo - excluindo doença, distúrbio alimentar, etc. Hoje eu continuo querendo 14% de gordura, mas quero mais ser feliz e leve, leve no sentido figurado também.

Ser leve no lidar com as coisas, na altura do salto e na tolerância com as pessoas. Quero ser mais leve com o meu sono que teima em durar 9 demoradas horas e não está querendo correr cedo no parque antes do solzão. Por que não o final do dia? Com o sol caindo e a dama da noite soltando seu perfume ali na curvinha do Severo Gomes.

Quero ser mais suave com a agenda que não se concretiza, quero cantar bem alto a música favorita da época e cagar pro trânsito bizarro de São Paulo. Quero querer ficar sem beber por 1 mês e quero pegar leve comigo quando me render a um ou dois drinks que sempre terminam mais felizes do que começaram.

Hoje eu quero muito internalizar que eu posso gostar de Pink Floyd, Tom Jobim, Dave Matthews Band e que tá tudo bem se eu dançar "Deu onda" [kkkkk, me julguem]. E eu vou continuar defendendo a Bela Gil e suas receitas com tofu e grão de bico. E vou continuar sabendo do tanto que a criação de gado de corte é responsável pelo efeito estufa, mas também vou comer um hamburger sangrando, porque adoro, e eu respeito aquele boi que virou alimento pra mim.

Acho que com 35 anos, e querendo os 14% de gordura estou entendendo que dá pra ter uma vida mais equilibrada. Dá pra ser mais de uma pessoa, graças a Deus! Dá pra querer trabalhar menos e mesmo assim ser muito comprometida. Dá pra ser casada e continuar se divertindo muito com os amigos [com e sem o marido]. Dá pra ser raiz e Nutella. Dá pra buscar os 14% de gordura sendo chata e velha de 2a a 5a, e pinguça e jovem de 6a a domingo. Ainda bem!

Post inpira na Fe de quem eu praticamente parafraseei a penúltima frase. 

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Disciplina

No sábado assisti ao filme 100 metros (no Netflix) que conta a história de um jovem - pessoas de 35 anos são muito jovens rsrsrs - que é diagnosticado com esclerose múltipla. O cara recebe o diagnóstico e dizem que ele não poderá nem andar 100 metros no próximo ano pois, a doença tirará seus movimentos gradativamente.

Só que o cara se inscreve num iron man. Pra quem não sabe um iron man é uma prova que é composta por 3,8 km de natação, 180km de ciclismo e 42,2km de corrida, a famosa maratona. O cara teve um diagnóstico de esclerose múltipla. O cara se inscreveu num iron man. O filme é baseado em fatos reais, e eu recomendo pra quem gosta de histórias de superação.

Ai no domingo o Re fez a primeira meia maratona dele, pra quem não sabe a metade dos 42,2km da maratona mencionados ali em cima... São 21km. Sempre digo, porque também já corri meus 21km que: todo mundo pode correr 21km, mas poucos são os que correm os seus 21km. Na verdade muitos correm, mas dos que eu conheço, poucos correm. Isso porque correr 21km é questão de treinar e só. É preciso dedicação, é preciso treino. Não é um escândalo de difícil, e nem é preciso parar de viver pra isso. Dá pra encaixar a vida social preferencialmente no sábado a noite, pra poder fazer o longo no sábado pela manhã...

E aí é aquela homeopatia. 2a, 4as, e sábados tem corrida. 3as e 5as tem musculação. Todos os dias é ideal ter sono bom. Todos os dias é ideal se alimentar bem. Tem que alongar. Tem que hidratar. Pode ser que machuque o joelho. Pode ser que um dia acorde sentindo a sola do pé, maldita fáscia plantar, pode ser que tenha que fazer gelo. Pode ser que não doa nada, e que tudo dê certo lindamente. Pro Re foi assim, zero lesões.

A disciplina vale tão a pena. Prepara tanto, traz o conforto e a segurança de estar bem treinado. No sábado a noite, antes da prova do Re eu sabia que ele iria bem. Disciplinado e treinado ele já tinha corrido 19km como treino duas semanas antes. Seria só correr mais 10 minutos e prova terminada.

No domingo acordei às 7 da manhã pra esperar ele na linha de chegada. Ele chegou no tempo determinado, calmo, sem fazer muita festa rsrsrsrs. A cara dele. Mas cada pessoa cruzava a linha de chegada com uma cara. Tinha gente morrendo de cansaço, tinha gente gritando de felicidade, tinha gente de boa como se estivesse passeando, tinha gente querendo voar nos últimos 100 metros, tinha gente fazendo um snapchat (ju-ro!!!!), tinha gente xingando de alívio, tinha gente andando porque se machucou no meio do caminho...

E assim que é, cada um com a sua caminhada, ou corrida, nesse caso. Acho louco como momentos representam a vida, e como o esporte é sempre um excelente professor. Disciplina, determinação, organização, concentração, atenção, foco. A briga interna é a mais difícil e a mais gostosa de ganhar.

Disciplina e a determinação: definitivamente as características que mais admiro nas pessoas e que fico sempre, sempre, sempre querendo encontrar em mim.

terça-feira, 21 de março de 2017

Aquele pensamento pré Mega Sena: e se eu fosse bem rica?

Outro dia eu estava em casa pensando o que eu faria se eu não precisasse trabalhar. Rapidamente minha mente mudou o rumo e se questionou o que eu ia querer fazer se tivesse muita grana, tipo Mega Sena. Pode parecer mentira mas não visualizei grandes mudanças na minha vida, não. Claro que alguns ajustes seriam feitos....

Eu ia parar com essa mania de querer o céu, porque simplesmente iríamos morar numa cobertura. Nada gigante. Nada que precisasse de empregada todos os dias - não consigo nem imaginar minha vida com alguém enfiado em casa todos os dias. Todos os dias. Eu gosto de tomar café da manhã de camisola... Não dá pra ter gente diferente em casa todos os dias. Mas que eu queria poder olhar pra cima e ver o céu, ah como eu queria. Não queria ofurô, nem piscina, nem nada disso. Queria ter um chuveiro, uma espreguiçadeira e meus temperos plantados em vasinhos. Queria muito também ter gancho pra pendurar umas 3 ou 4 redes. Porque rede nunca é demais. Sério, cobertura parece ostentação, mas eu só queria um quintalzinho, e como tenho medo de casa em SP tem que ser cobertura. Pronto. E sim eu queria morar em SP mesmo.

Certamente não teria um carro com tanta batedeira como o atual. Rsrsrsrsrs. Ele tá velho coitado. Mas não quebra, e tem ar, direção, automático. Tá ótimo. Não preciso muito mais que isso.... Mas se tivesse muito dinheiro eu não ficaria pensando que o IPVA + o seguro + a manutenção + o valor de se trocar de carro com frequência me custariam uma viagem internacional... Sendo assim é provável que eu finalmente tivesse um SUV blindado. Pronto.

Viagens... acho que viajaria mais. Tipo todos os feriados, e dane-se se custa o dobro. Dinheiro serve pra gastar. Tipo todos os finais de semana de sol no litoral norte mesmos sabendo que a pousada muitas vezes é mais cara que o RJ nas Olimpíadas... Dinheiro serve pra isso.

E é isso. É isso. Não queria ter um barco, uma casa na praia, outra no campo. Nem ia querer esquiar. Nem jogar tênis. Nem ter um carrão desses que fazem barulho. Nem precisaria ter bolsas de marca, nem closet gigantesco. Mas pensando bem eu só ia comer orgânicos. Dane-se que a couve flor custa R$ 8 (se pensar bem é o mesmo preço do Nespresso em muito restaurante).

"A vida é feita de pequenos prazeres" - Fonte: algum instagram aberto

É sério isso. Quem me conhece sabe como é sério isso. Mas a parte mais legal desse exercício foi concluir que: eu já sou feliz! Há! Porque essas coisinhas que eu mudaria são coisinhas. Não são estruturais na minha vida, são acessórios... E quem não percebe o que é de fato importante fica correndo atrás do próprio rabo... Acha que merece um carrão, ai compra o bendito. Ai tem que trabalhar muito mais pra pagar a prestação do carrão. E se fosse só carro tava bom, né? Carro, apartamento, etc e tal. Não faz nenhum sentido pra mim.

E antes que alguém pense "ah, ela fala isso porque não pode ter coisas caras", vamos a um exemplo prático: atualmente, mesmo podendo consumir máscara de cílios da Lancôme com um belo desconto, eu continuo usando Maybeline no dia a dia. Não preciso mais que isso. Tomo banho toda hora, ponho e tiro a maquiagem toda hora. Pra que ficar usando algo 3x mais caro só porque tenho acesso a esse tal desconto? Pra quê?

Então se eu fosse bem rica é capaz que não me preocupasse [muito] com o valor da garrafa de vinho, mas acho pouco provável que algum dia na vida eu deixe de raciocinar sobre o preço das coisas. Também teria um armário maior, e teria coragem de ter uma Chanel, tudo no armário da tal cobertura com o céu. E eu estaria sempre bronzeada [isso sim me faz mais feliz]. Certamente eu comeria em restaurantes animais toda semana. Mas eu juro que eu não acho que seria de verdade MAIS feliz. Seria apenas menos preocupada com o futuro, não mais feliz, porque eu acredito mesmo nas pequenas felicidades. (Vide o instagram que mantenho junto com uma amiga @pequenas_felicidades).

Li outro dia a seguinte frase e achei perfeita: "a sensação do 'eu posso ter, mas não quero' é libertadora a partir do momento que você se dá conta de que pode - e deve - escolher só o que tem sentido pra você" - Miriam Goldenberg na Revista Vida Simples.

Achei uma boa reflexão pra dividir.

No fim das contas o que eu quero mesmo é ver o céu deitada na rede. ;-)


quarta-feira, 8 de março de 2017

É nossa responsabilidade sim!

Dia 08 de março sempre foi um dia agradável pra mim. Meu pai sempre nos presentou - a mim, minha mãe e irmã - com flores, ou saíamos pra jantar, ou algo especial por ser o dia internacional da mulher. Nos dias mais empolgados ele chegava até a ligar pra mulherada da família. Eu sempre achei isso muito legal.

Meu pai, filho da minha avó que sempre trabalhou pra dar conta de cuidar de 4 filhos. Meu pai, filho do meu avô que sempre lavou a louça, ou que preparava o café da manhã, ou que já ia amassando a batata pra minha avó fazer o nhoque. Meu avô trabalhava fora e sempre foi um homem da casa. Minha avó trabalhava fora e sempre foi uma mulher da casa.

Exemplo sempre foi o melhor caminho pra formar alguém.

Hoje é de novo dia 8 de março e num mundo onde escuto das mulheres que os maridos as "ajudam" em casa também escuto que o dia internacional da mulher é mais uma forma de machismo (!!!).

Acho um saco essa mania de ficar criando polêmica pra tudo - essa de dizer que o dia internacional da mulher é machismo, por exemplo - quando na verdade só não sabe quem não quer [se informar] que as mulheres estudam mais que os homens, trabalham mais e ganham menos, assumem as atividades da casa numa jornada tripla de trabalho. Isso não é se vitimizar, isso é um fato.

São as mulheres quem correm com os filhos pro hospital quando eles estão doentes e se viram pra explicar pro chefe que criança tem febre de forma imprevisível. As mulheres ocupam menos cargos de liderança. São as mulheres que tem mais dificuldade de encontrar emprego porque, 'você sabe né, mulher engravida'. E pode até ser que isso não aconteça ao seu redor, ou pode até ser que você apenas ache que isso não acontece com você, mas todo mundo sabe [ou apenas aqueles que olham a sua volta] que o mundo não é o nosso umbiguinho. Sabemos bem que SP não é Brasil, sabemos bem que não temos problemas reais quando comparado a maioria desse mundão.

Que nesse 8 de março a gente saiba que os elogios que recebemos pelo dia internacional da mulher refletem o caminho de muita gente que já lutou pela igualdade, mas que tem muito ainda pra ser feito. E que a gente tenha sempre em mente que somos responsáveis pelas pessoas que somos, pelos comentários que velamos, pelas respostas que calamos, e principalmente, pelos meninos e meninas que educamos ou educaremos.



Foto: tirei de uma matéria do O Globo, que mostra NYC nesse dia internacional da mulher. Link:
http://oglobo.globo.com/economia/dia-da-mulher-menina-destemida-colocada-junto-touro-de-wall-street-21029137

segunda-feira, 6 de março de 2017

Ansiedade

Imagem - Google Images

É o que me faz estar pensando nesse texto desde 15/12/16 [sem conseguir escrever uma palavra por uns 60 dias] quando a Aline me sugeriu esse tema. Ansiedade é o que me toma por dentro quando vejo possibilidade de comprar um voo internacional que custa poucas milhas sem saber se vou poder tirar ferias - atualmente sem saber se vou estar trabalhando. É a sensação que antecede a primeira garfada em um almoço em que eu cozinhei para convidados. É o frio na barriga dos primeiros encontros.

É a véspera da entrevista de emprego. É o momento anterior ao "publicar" um post por aqui...

Acho que nasci ansiosa e por mais que eu controle bem melhor as emoções agora eu tenho plena consciência de que apenas disfarço melhor. Autoconhecimento é tudo, né?! Rsrsrs, nem vou tentar me enganar que a terapia funcionou completamente, que a respiração do yoga consegue me baixar a bola ou que correr uns 5, 6, 7, 8 ou 9km vão tranquilizar totalmente a pessoinha aqui. Talvez eu devesse voltar para as meia maratonas, será?!

Basta o som do whatsapp apitar mais de duas vezes pra já me dar um siricutico interno. Quero muito saber o que está escrito ali. E na maioria das vezes é nada de demais, mas mesmo assim eu quero saber. Só piora se for um audio e estiver num ambiente que não posso ouvir.

É quando a gente sente uma coisinha estranha no seio... E toca... Sente, toca de novo... Manda mensagem pra médica que diz pra gente ficar calma. É estar em pânico até o resultado do ultrassom sair e você descobrir que era apenas gordura. Ufa.

Ansiedade é sofrer por antecipação. É não conseguir controlar os pensamentos. É não estar 100% no presente. É ler uma página inteira de um livro e não ter absorvido nada porque estava pensando em outra coisa.

Ansiedade é achar que um pote de sorvete vai acalmar nosso coração, né Aline?

A cada exemplo que cito fico pensando que há uma definição melhor que ansiedade pra isso, medo, angústia, sei lá.... A cada toque no teclado do meu computador, por mais que eu saiba que ansiedade me faz mal, eu começo a aceitar tudo isso. Enquanto escrevo eu vou ficando cada vez mais tranquila, porque penso em quão humanas são todas essas sensações e, eu praticamente me perdoo pelo sofrimento que me causo... Me entendo... E sei que muita gente vai me entender também porque tem coisas que simplesmente são assim, humanas.

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Eu poderia parar o texto ali no "humanas"... mas... Lá vem aquele toque de Gabriela insuportavelmente humana para finalizar a bagaça: 

E também me perdoo porque não tem nada mais chato que gente morna, estável, reta e sempre controlada. 

Claro que eu tinha que acabar com toda a elegância, né?! kkkkkk.

quinta-feira, 2 de março de 2017

"é que não te dei um beijinho de boa noite..."

Lembro como se fosse hoje do meu pai me dizendo pra que eu aproveitasse as minhas avós, porque eu sentiria falta delas - mal sabia ele que eu sentiria falta dele antes... mas vamos que vamos. Pensei nessa fala dele durante diversas vezes da minha vida. Tenho 35 anos, 2 avós e 1 avô.

Tenho 35 anos e já sinto saudades de 2 avôs e 2 avós.

Lavo a louça com os olhos cheios de lágrimas após uma conversa com a Faustina. Penso na vida dela,  nessa rotina difícil de ter o marido numa cama depois de um avc. Penso como é ser a última irmã viva. Penso como é não se lembrar exatamente o que aconteceu na vida de cada irmão. Penso como é se sentir sozinha depois que a filha e os netos vão embora do fim de semana. Penso como é não conseguir dominar o corpo.

Quebro um copo, e fico feliz por não ter sido uma taça de cristal, presente de casamento da Clementina, ufa. Recolho os cacos, e dou mais uma pensada na vida. Organizo a mesa do café da manhã. Volto pra sala e vejo minha avó rezando na cama com o meu avô. Tenho vontade de chorar, mas finjo que está tudo bem. Dou um beijinho nele, e subo.

Ela vem devagarzinho na sequência, com dificuldade pra subir cada degrau. Dá um 'beijinho de boa noite' em mim e outro no Renato. Ela conta como a gente alegra o seu coração, porque a 'solidão mata'. Digo que fazemos muita bagunça isso sim. Disfarço.

Me tranco no banheiro e esqueço que é terça de carnaval. Choro sem dó... Lavo o rosto. Choro. Escuto:

"Bi?"

respondo: oi, já to saindo

"Tá, é que não te dei um beijinho de boa noite..."

Ela esqueceu...

Saio do banheiro escovando os dentes, pra disfarçar a minha cara de choro, entro no quarto da minha avó que não percebe a minha presença e também está escovando os seus dentes. Minutos depois ela se vira, me vê e diz:

"também estava escovando os dentes, hehehe. Boa noite."

respondo: boa noite vó, até amanhã.

"até amanhã, se Deus quiser, dorme com os anjinhos"




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Devaneios na vida de desempregada

Faz três meses que não estou trabalhando. Sempre pensei que ficaria entediada, que não teria assunto com as pessoas, ou que sentiria muita falta do trabalho. Não estou sentindo muita falta do trabalho. Não estou sentindo falta nenhuma na verdade, ainda. É provável que sinta um dia, mas estou tranquilinha esperando esse dia chegar. Sem contar a grana, né... Mas isso é papo pra outro post.

Enquanto espero estou fazendo coisas simples como ler mais, cozinhar praticamente todos os dias, fazer compras de supermercado, voltei a fazer yoga, tenho ido a academia na hora que eu quero, e sim faço exatamente as mesmas aulas, porque eu simplesmente gosto. Também já encontrei diversos amigos pra por o papo em dia e já fiz muitos happy hours em que sou a primeira a chegar pra segurar a mesa. Passei uma tarde com a minha madrinha, e viajei para o interior na 5a a noite, olha que luxo!

Praia do Boqueirão - Santos
Passei uns dias em Santos com a minha avó. Finalmente mudei meu plano de celular pra um mais barato, doei muitas roupas, arrumei os armários, consigo ler as mensagens dos grupos de whatsapp, mas continuo deletando praticamente todos os e-mails promocionais que recebo. Já assisti La La Land, e Sing às 16h, rodeada de crianças. Tomei sol. Continuo acordando praticamente no mesmo horário, mas faço tudo com mais calma, menos quando tem yoga às 9h...

Não fiz todos os programas culturais que eu queria. Nem toda a ginástica que eu imaginava. Também não fiz os contatos profissionais que eu tinha pensado que faria. Planejamento na vida, como nos negócios é uma coisa que temos que ter consciência: falha.

Tenho muito tempo livre? Tenho. Vejo programas repetidos? Vejo. Tem espaço pra trabalhar? Tem. Mas será que precisa ser nesse molde escritório, das 8h as 17h? Precisam ser 8h por dia? Precisa ser todos os dias da semana? Precisa não ver o por do sol nunca porque está enfiado no escritório? Precisa pagar sempre as passagens mais caras pra estar sempre a postos no horário comercial?

Tenho me questionado muito sobre isso nesse período. Queria saber quais são as outras formas de trabalho. Please, me ajudem. Rsrsrs. Sério, quem puder compartilha esse texto, me responde nos comentários, me manda um whatsapp.... Quero muito conseguir manter as pequenas coisas importantes na minha vida.

Tks!


quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Num mundo onde é preciso ter opinião a agressão tá mandando ver

Eu cresci ouvindo dos meus pais "porque não" não é resposta. Sempre que não podia alguma coisa havia uma razão. Tinha motivo pra não dormir na casa dos amigos, tinha motivo pra não ficar até o fim daquela balada. Tinha motivo pra fazer aula de natação. Quem tem mãe professora de matemática tem racional nessa vida. rsrsrs.

Sempre observei gente interessante e inteligente e quase como um instinto natural procurei me informar sobre o que essas pessoas diziam, ler o que essas pessoas liam, abrir a minha cabeça. E isso foi aumentando ainda mais essa minha característica de buscar fundamento nas coisas... Sempre preferi observar e falar quando tenho mais certeza.

To aqui escrevendo e pensando como o mundo se coloca hoje. Como as pessoas vomitam hoje em dia. Fico pensando que faltou aprender com as vaquinhas... Faltou ruminar o assunto. Faltou pensar, refletir, entender o racional. Falta tanta sensibilidade pra expor os pensamentos que as pessoas sequer notam como agridem gratuitamente os outros. Os outros que em teoria são seus amigos, conhecidos, parentes, seja lá o que for, são pessoas.

Não sei o que falta... Não sei se é ler mais pra saber se colocar melhor, e to falando de usar palavras mais adequadas. Não sei se falta o que fazer. Não sei se falta compaixão, se colocar no lugar do outro mesmo. Ou será que falta humildade pra entender que nem todo mundo precisa concordar? Ou será que a pessoa que agride é só atrapalhada mesmo? Será que é só a forma de colocar isso pra fora? Talvez no fundo essas pessoas sejam ótimas, mas só não saibam se expressar. Será?

Me falta paciência... Me dá uma preguiça... E com 35 anos de idade eu fico pensando em como tirar tudo isso da minha vida sem parecer grossa. Porque eu penso em não ser indelicada com as pessoas... E me questiono se quando eu for mais velha vou ter mais coragem e ser digamos, mais definitiva.

E por que eu to falando tudo isso? Porque eu sou a favor da redução das velocidades. Isso é porque eu sou a favor das vidas. Sou a favor da redução de acidentes. Sou a favor dos motoqueiros (também) sim. Prefiro todos os motoqueiros vivos, prefiro que eles tenham os dois braços e as duas pernas. Prefiro que eles tenham as vértebras todas bonitinhas. Prefiro que eles não caiam, mesmo ouvindo argumentos de que alguns arrancam os retrovisores dos carros. Mas ok, também tenho amigos muito chatos. Isso é estatístico, acontece com todo mundo, em todos os lugares.

[E ok se você concorda com o aumento da velocidade porque você quer chegar mais rápido no trabalho, ou porque vai dormir um pouco mais, ou porque acredita e verifica que mudou muito o tempo do seu percurso. Não vamos brigar por isso, ok?]

E por que mais eu to falando isso? Porque eu sou contra passar tinta cinza nos grafites. Porque eu acho grafite bonito. Porque eu gosto das cores e eu fotografo os grafites sempre que posso. Porque eu comecei a dar atenção a eles quando fui a Berlin, com amigos desses interessantes que mencionei acima que são relevantes pra mim. Amigos esses que me fizeram querer olhar as coisas de outra forma. E passei a ver essa arte. E passei a entender isso como uma expressão, e porque eu sou libriana e gosto de coisas belas. E o que é belo pra mim não precisa ser belo pro outro.

[E ok se você acha feio. Eu também não entendo muita arte de museu. 
E nem preciso citar o fato de haver um projeto para a arte na av. 23 de maio, porque não é esse o MEU motivo. 
E sim, eu uso meu iPhone pra fotografar. 
E sim eu fiz mochilão quando eu tinha 20 e poucos anos. 
Quase posso sentir o cheiro de rótulos em fabricação]

E por que mais eu to falando isso? Porque eu queria muito que todo mundo lesse e refletisse, e pelo menos não agredisse mais os outros com palavras mal colocadas, com pensamentos arrogantes. E pra admitir que por mais que eu tente eu não consigo, não quero, não vou me colocar no lugar dessa turma - que é de direita, e de esquerda - que agride.

[Não apaguei ninguém do meu facebook, apenas parei de ver as publicações. Como eu disse, não quero parecer grossa com ninguém, mas não quero sobretudo me expor a certas grosserias].

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Apaixonar-se ou não? Eis a questão

[texto de uma amiga que preferiu não se identificar]

Uma vez um amigo me disse que sou muito coração aberto. Ele se referia a quão fácil eu me apaixonava pelas pessoas. Sim, pelos homens (que ainda são minha preferência) e também pelas pessoas em geral (também sou apaixonada pelas minhas amigas, amigos e família).

No mundo de hoje quem se apaixona, se entrega muito fácil, se machuca mais. Engraçado como as coisas são... Ser verdadeiro e honesto sobre seus sentimentos deveria ser algo "normal", mas hoje o que mais tenho visto são os jogos de amor; estratégias para mostrar para o outro que você não se importa.

Vejo amigas se remoendo pra não escrever uma mensagem para o cara que estão apaixonadas porque entendem que se fazem isso estarão mostrando demais seus sentimentos.
Que coisa doida...

Claro que acho que deve haver reciprocidade, ninguém vai ficar se declarando para alguém que não sente algo ao menos parecido, mas ainda assim percebo esses jogos de amor.

Sou uma pessoa intensa de carteirinha, ainda sonho com o amor espontâneo e verdadeiro apesar de conhecer os dissabores que isso causa.

Tem uma frase do filme O fabuloso destino de Amelie Poulan que me identifico e diz muito sobre o momento atual e meu jeito de ser: "são tempos difíceis para os sonhadores..."


terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Delícias deliciosas da vida

Das delícias mais deliciosas da vida está encontrar as amigas. Se fizer 27 graus em São Paulo numa noite de janeiro ali no Itaim então... Se tiver um gin tônica no copo certo, na dose certa com schweppes, com tanqueray e com muita risada então...

Pode ser que tenha pernilongos, e que não tenha repelente no bar. Pode ser que não disponibilizem o carregador pro celular. Pode ser que uma amiga esteja num curso e a outra em uma viagem. Pode ser que uma demore mais pra chegar... Mas estar entre amigas é sempre tão bom. E a ausência de uma ou outra faz a gente querer marcar mais. E querer é poder pra essa mulherada boa.

Das delícias mais deliciosas da vida estão as pequenas coisas. Os assuntos corriqueiros que só trazem pertencimento. As mesmas dúvidas, as mesmas aflições, diferentes pontos de vista pra criar um novo ponto de vista. Mudar de ideia, reforçar a ideia, misturar os assuntos, criar conversas paralelas...

Das delícias mais deliciosas da vida: me manda a foto... também quero... tá no seu celular... beleza, quando eu tiver bateria eu mando... vamos marcar mais... me manda aquele contato... foi ótimo.... me lembra de enviar aquele e-mail amanhã... vamos marcar semana que vem de novo.... vamos sim, foi muito bom.... vamos marcar mais.... vamos!!!!