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terça-feira, 23 de abril de 2019

A primeira vez que nossos olhos se cruzaram

38 semanas e 6 dias, passei o dia quietinha... apenas fiz as unhas, e me mantive quieta, pés pra cima... Inchada, cansada, com medo. Antes de dormir tive uma crise de choro. Choro de medo, um medão da porra. Medo de não dar conta. Medo de doer. Medo de não ser parto normal. Medo. Me acalmou saber que o Renato também sentia essa sensação, essa humanidade sempre me aliviou.

39 semanas, antes das seis da manhã comecei a ir muito fazer xixi. De tempos em tempos. Mais acordada percebi que não era xixi, e sim o meu desconforto estava ritmado. O despertador do Re tocou pra ir correr no parque "acho melhor você ir a consulta comigo, to com um desconforto ritmado".

Minha médica me falou pra tomar banho com calma, tomar café, e depois ir pra lá ou para o hospital dependendo do meu estado. Fui ao banheiro 3x antes da consulta. Eu já sabia que aquilo era um sinal do trabalho de parto. Milagrosamente não senti medo. Eram 2 cm de dilatação e já sabíamos que logo a Julia iria chegar. Fiz a última sessão de fisioterapia para o períneo, e ai as contrações começaram de verdade. Eu via a barriga contrair, e ainda não sentia uma dor absurda... Fomos almoçar num restaurante e eu controlava as contrações num app como se nada estivesse acontecendo enquanto devorava uma massa.

Passamos a tarde em casa. Fiquei deitada. Eu não queria bola, não queria massagem, não queria abraço. Eu queria era ficar quieta no meu canto. Nem sei se a ficha estava caindo ou não. Acho que eu estava simplesmente indo. E aquele momento, como toda a gravidez eu não estava dominada pela emoção. Nunca fui de chorar, de achar que era o maior amor do mundo, nem nada dessas coisas bonitas que a gente ve nos documentários. Sempre me conectei tranquilamente com a Julia, sempre pedi pra ela ser minha parceira, pra me ajudar no parto, que seria um processo nosso. Nesse dia não foi diferente. Pedia pra ela pra continuarmos parceiras. E continuei seguindo as indicações médicas de ficar o máximo possível em casa.

Até que chegou uma hora que avisei que estava indo. Comi um pré treino - pasta de amendoim, banana e mel (sério) e fomos. O caminho pareceu eterno. A cada buraco medo de a bolsa estourar. Chegando lá eu já tava visivelmente acabada, me ofereceram uma cadeira de rodas, que eu me achando fodona não quis, e obviamente pedi 10 metros depois. Não dava pra querer andar pelo hospital.

Examinada e 4 cm de dilatação. Eu pensei, "agora fodeu, eu não aguento essa dor por muito mais tempo e a Dra. Claudia não vai me dar anestesia tão cedo". Só que eu aguentei. E foi água quente, e foi banheira, e foram diversos pedidos de calma. E eu só pedia pelo anestesista.

"cade o anestesista?"
"sério gente, não to gritando porque não adianta, mas eu não to aguentando"
"mano, de onde tá vindo esse cara?"

Eu fiquei lá, quieta, aguentando a dor, aguentando o tempo passar. Em algum momento a bolsa estourou. E fui mais umas 2x ao banheiro. Continuei querendo ficar na minha. Eu era apenas um bicho querendo parir. Não teve cena bonita de marido e mulher juntos fazendo massagem, dançando na bola ou andando pelo corredor. Era uma dor. Uma dor. Uma dor. Não tinha como ser diferente pra mim. Me olhava no espelho e via a minha silhueta com aquela barrigona, eu fui uma grávida bonita, em um flash pensava que seria legal ter aquele momento registrado. Um segundo depois vinha aquela dor bizarra. Minha cara de sofrimento... Acho que essa cena eu, librianíssima, não queria guardar.

Finalmente chegou o anestesista, e depois disso a minha sensação foi de que eu aguentaria mais dois dias se precisasse. Não tinha dor. Ufa. Eu tremia... Descansei um pouquinho antes do momento da força. Eu não tive medo. Eu confiava demais na Dra. Claudia, e na natureza. O parto normal pra mim era um alívio. Eu sabia que era melhor. Eu sabia que ia dar certo. Eu simplesmente sabia.

E começou. Dra. Claudia testou onde seria melhor pra mim e pra Julia, mais pra Julia do que pra mim. Sugeriu de cócoras, vamos de cócoras. Sugeriu Renato sentado no sofá, eu encostada nele. Fomos. Dra. Claudia sentada no chão, me orientando junto com as enfermeiras. "Respira fundo, solta o ar, respira fundo e forçaaaaa", "tá vindo outra contração, respira fundo, solta o ar, respira e força"... Até que chegou uma hora que a orientação foi "respira fundo e solta o ar devagar"... E assim nasceu nossa menina. Sem força. Sem choradeira. Sem berreiro. Sem nenhum corte. Sem explosões. Com emoção sem exageros, como somos por aqui. Dra. Claudia colocou direto no meu peito, ela abriu os olhinhos e olhou pra mim, o mesmo olhar que vejo todos os dias, e agora sim, transbordo cada dia mais. Ficamos nós três naquele momento, vendo nossa mini família nascer. Vendo nossa neném de 3 quilinhos no meu colo.

Já não consigo mais dizer que minhas emoções são contidas. Acho que todos os dias sinto uma emoção tão grande que se eu não me controlasse eu choraria por bastante tempo. Pra mim o domínio da Julia sobre meu ser veio mesmo com ela aqui fora comigo, e aumenta sempre e pra sempre.