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sábado, 21 de junho de 2014

As perdas da vida...

Eu detesto aprender na dor mas admito que muito do que aprendi na vida foi com a dor, com o auto conhecimento.

As perdas da vida me fizeram ter atitudes de auto proteção. Quando meu pai morreu eu fui a forte. Sou vista como a forte até hoje. Naquele dezembro de 1998, do alto dos meus 17 anos (!!!) encarei a perda do meu pai de forma surpreendente. Não queria deixar de fazer as coisas esperadas de mim, tipo a prova do vestibular. Não queria chorar muito, isso demonstraria fraqueza. Não queria que minha mãe e meus irmão menores sofressem tanto. Fui criando em volta de mim uma bolha, que realmente me fazia sentir forte, mas não me deixava viver o que eu estava vivendo.

Me lembro da minha prima Caroline me ligar e eu não querer atender. Sabia que desmoronaria. Ela sabia que eu precisava daquele apoio. Mas mesmo assim me fiz de difícil. Não fui a velório e nem a enterro. Não queria ver meu pai pela última vez. Talvez não quisesse acreditar que tudo aquilo estava acontecendo. E lá foi minha mãe sozinha - nunca deixaria isso acontecer de novo. Fiquei em casa com os irmãos e recebi a visita dos meus amigos da escola, nunca vou esquecer deles comigo. Ainda assim não queria me abalar, 'não era assim que meu pai ia querer me ver'.

O tempo vai passando, e a bolha da proteção não consegue ser tão forte. A vida vem e o medo de perder alguém de novo é enorme. Se envolver com alguém e correr o risco de sofrer uma perda de novo? Não, obrigada! E quantas vezes na vida não me envolvi com namoradinhos, ou até com amigos mesmo, com a família (!!!) por medo da perda. E a perda vem. O avô velhinho se vai, a tia avó também, de vez em quando alguém muito novo morre… Ou alguém que está vivo se vai levado pela vida… E a perda dói, e é difícil sempre, e mais difícil ainda pra quem não quis passar por ela.

Ai a terapia, os livros, a vida, o auto conhecimento vão mostrando que não precisa ser assim. Não é preciso ser tão forte. Meus 30 anos me mostraram como eu sou eu, e como eu tenho que ser importante pra mim. Como eu tenho que ter valor pra mim, e como só assim eu terei valor pro outro, e que independentemente desse valor as pessoas vão e vem.

E graças a Deus eu "perdi" o meu avô Lauro depois dos meus 30 anos. Não, ele não morreu. Mas ele também não é mais o mesmo. Ele já não fica fazendo os jogos da mega sena, e nem tenta comprar um Audi, ou convencer a vovó de que o Fusca poderia ser o novo carro deles. Ele já não quer abrir uma garrafa de vinho, ok, acho que isso ele ainda quer lá no fundo, mas ele já não toma mais a garrafa de vinho, ou dá dicas sobre como escolher as frutas e legumes no mercado. O que ele tem, que sempre teve e sempre terá é o amor que passa pra gente.

E o que tudo isso tem a ver? Tem a ver com o fato de me permitir viver intensamente as coisas, sem o medo da perda, porque a perda virá. Já faz mais de 15 anos que meu pai morreu, e ainda tenho dificuldade de me envolver totalmente. Algumas pessoas conhecem meu lado bem frágil. Outras acreditam que eu seja uma rocha. No fundo a cada dia, a cada evento da minha vida ou da vida de quem me interessa me mostra que tudo sempre vai mudar, e a dor sempre vai existir…. MAS, a dor, a saudade, esses sentimentos só acontecem pra quem se permite viver. Pra quem se permite sentir. Pra quem efetivamente deixou o medo de lado e desencanou da proteção pra viver.

domingo, 8 de junho de 2014

Pra relativizar….

"Gá, cheguei em Santos. O vovô tirou a traqueo!"

(…)

"Pai nosso que estais no céu… Ave Maria cheia de graça… 'Deus, cuida dos meus avós Lauro, Faustina, Dora. Da minha mãe, dos meus irmãos, do meu marido e de mim. Amém'"

(…)

"o vovô tirou a traqueo!"

Foi como um sonho virando realidade. Por muitas noites eu pedi pra Deus pra que meu avô pudesse finalmente voltar a comer alguma coisa. Pedi, pedi, pedi. Quase fiz promessa. Pedi… Desisti de pedir por isso exatamente, apesar de ser um sonho dentro de mim. Um sonho que aconteceu. Passei a pedir que simplesmente cuidasse da gente.

Persistência de 1 ano e 3 meses do meu avô. Sem falar, sem comer, sem tanta coisa. E como não achar que a vida é mais simples? E como não agradecer a Deus por tudo que temos. Pelo gostinho bom da comida, pela água quentinha do banho, pelo abraço gostoso do vovô que saiu daquela cirurgia vivo, diferente do que entrou, mas vivo? Como não ficar feliz com o cheirinho de amaciante no travesseiro, ou quando o ônibus chega rápido no ponto. Quando o dia amanhece azul e os faróis do caminho estão todos abertos.

Não agradeço o AVC do meu avô, seria muito hipócrita da minha parte, mas admito que aprendi muito. Muitíssimo. Aprendi o que realmente importa. Ainda me irrito com o que não importa. Gasto energia com o que não precisa, mas definitivamente me abasteço lá em baixo… Com o abraço gostoso do avô novo, e o olhar carinhoso da vovó de sempre.

Deus, cuida dos meus avós, da minha mãe, dos meus irmãos, do meu marido e de mim. Amém.