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sábado, 26 de novembro de 2016

Do lado de dentro

Eu fiz as contas: foram 6200 dias com ele, e outros 6500 sem ele. Quando meu pai morreu me lembro de alguém me dizer que um dia, no futuro, eu perceberia que eu já tinha vivido mais tempo sem ele do que com ele. Não tenho certeza se foi a Celinha ou Angela, que também perderam o pai cedo, com a mesma idade que eu e a Rafa. Isso me marcou muito e esse dia chegou...

Mais da metade da minha vida sem o meu pai. Acho impressionante como eu não sinto isso. E não é que eu não sinto falta, que eu não tenho saudade, ou qualquer coisa do gênero. É que pra mim ele está aqui, do lado de dentro. Meu pai tem um lugar na minha vida que não é a morte, essa enorme bobagem - parafraseando a Milly Lacombe - que vai tirar ele mim. Não sei quantos dias foram necessários para que a tristeza virasse saudade boa. Admito que tem dias que só tem saudade ruim. Saudade que dói. Mas são poucos dias. Os dias bons, que são maioria na minha vida tem sempre meu pai por perto.

Sou sempre inundada por boas lembranças, boas risadas. Faz mais de 6500 dias que não vejo o meu pai e nada disso me deixa esquecer a voz dele, os olhinhos verdes meio esmagadinhos, o cheiro do perfume e do jeito de buzinar. Lembro direitinho da mão dele, do pé 43 pedindo massagem, da quantidade de cerveja pra fazer ele feliz - muita, sempre.

Aqui em mim tem tanta coisa... A pele bronzeada que me destaca no verão, a neurose pelo cabelo penteado, o gênio forte, a assertividade que quase vira grosseria, a mania de querer liderar - pra não dizer mandar - em casa.

Toda vez nessa vida que eu sentir cheiro de carvão que acabou de ser aceso vou lembrar do meu pai. Sempre que uma costela sair da churrasqueira eu vou voltar lá pra vila cruzeiro naquelas tardes de GP do Brasil. Sempre que eu vir bolas de basquete, sempre que eu exagerar na quantidade de comida, ou toda vez que vir um parmesão inteiro eu vou lembrar dele. Toda vez que vejo uma árvore de primavera florida ele vai sorrir em mim.

Não é preciso muito tempo pra isso. Não é preciso foto. Não é preciso ser dia 09 de maio ou 09 de dezembro... Simplesmente é assim, é aqui... Do lado de dentro.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Baguncinha...

Acordei e fotografei o relógio cuco que marcava pouco mais de oito horas. Eu poderia escrever um texto sobre aquele cuco lindo, que foi do avô do meu marido. Eu poderia escrever sobre como ele realmente toca a cada meia hora, e  dizer que eventualmente me acorda, e que não me deixa ler tranquila no sofá, tic tac, tic tac...

Na sequência fotografei a mesa do café da manhã que estava posta desde a noite anterior. Também poderia escrever um texto sobre isso. Poderia falar sobre como eu adoro adiantar as coisas ou como adoro café da manhã e o que ele me representa. Tomar café da manhã todo dia com o marido me dá a sensação de comercial de margarina, parece vida perfeita, e é bom começar o dia com essa energia, mesmo sabendo do número de cliques necessários para fazer a fotografia - que nem perfeita fica. Imagina a vida, né?

Mas na foto da mesa do café insistia em aparecer uma baguncinha, imperfeita. Ali no cantinho, quase escapando pelo lado direito tinha uma confusão. Eram papéis, livros, canetas, fones de ouvido, post its. Bloquinhos de notas, segunda via do cartão de crédito, caixa de óculos e cartões de visita. Insisti no prato de sobremesa e na xícara de chá. Mas não adiantava, a bagunça estava ali. E estava aqui, em mim.

Era terça feira 08/11/16, dia que antecederia a minha demissão na empresa que trabalhei nos últimos quatro anos. Sim, eu já estava pressentindo. Sou dessas que lê os sinais, nesse caso bem escancarados... Ano difícil, sequência de demissões, rádio peão... Menos trabalho... Mais que isso, menos envolvimento, menos empolgação, menos coração, menos amigos, menos vida...

A baguncinha no canto direito da foto era a baguncinha que eu queria passar por cima, ou que eu havia deixado pra trás no ano de 2016. Foi um ciclo que foi terminando, no gerúndio mesmo. Uma vida feliz que foi perdendo as pessoas que faziam sentido pra mim. Foi perdendo o desafio e foi se tornando resiliência, preguiça, dor de estômago, alergia.

A baguncinha foi sendo capturada nos últimos 3 dias aos poucos, sem querer chamar muita atenção... Pega um livro daqui, outro dali. Verifica uns papéis, separa os objetos pessoais. Enfia tudo na mochila da academia e vai pra casa. Faz tudo de novo no dia seguinte, de forma a não ter que carregar nada de volta no fatídico possível dia da demissão.

No dia 09/11/16 deixei o meu trabalho mais sexy. De volta em casa peguei toda a baguncinha que estava sobre a mesa, acumulada nos últimos dias, e transferi para a cadeira, e parei de enxergar tudo aquilo. Não me despedi, não mandei meu e-mail com meus contatos, eu simplesmente sai pra fazer meu demissional. Mas a baguncinha ainda estava aqui.

A querida start up que comecei a trabalhar há 4 anos não é mais a mesma. Faz tempo. Tinha virado pra mim um trabalho normal... Tinha deixado de ser um sonho. Tem coisa mais sonho que os ventos que geram energia? Pode existir um trabalho mais legal do que uma empresa de geração de energia renovável criada por dois amigos, e onde todo mundo é jovem e interessante? Onde tem fruta cortadinha no meio da tarde e o presidente sabe o nome de todos? Onde a academia é um benefício e os mandamentos poderiam ter sido escritos por você? Pois é... Por três anos foi nesse lugar que eu trabalhei. E fui realmente feliz. E dizia com o maior orgulho do mundo "trabalho numa empresa de geração de energia renovável", e com a mesma felicidade me empolgava nas reuniões semanais com o presidente, e até achava descolado o perrengue que era chegar no semi árido baiano e ver a operação dos parques eólicos. Adorava ter muitas curtidas no meu instagram onde eu aparecia menor do que já sou em meio a tantos aerogeradores monstruosos. Aquilo era a perfeição pra mim. Ter perspectiva sempre me fascinou. Como é bom saber o nosso tamanho real. Como é bom ter a noção de não ser quase nada. Como é bom saber da nossa pequenez. Como é bom saber que a vida acontece no campo, na obra, na operação. E dentro dessa perspectiva onde eu sempre fui pequena eu tinha um orgulho enorme de pertencer aquilo tudo.

No último ano não fui a Caetité nem a Salvador . No último ano a maioria das pessoas interessantes saíram ou foram saídas, e deixaram pouco a pouco um buraco em mim... E foi acontecendo com uma frequência tão grande que eu já não sentia mais... Já não me importava mais - com a ausência - porque sabia que quem eu quisesse por perto eu manteria. Já não havia mais a mesma quantidade de trocas relevantes, já não havia mais cafés animados, já não havia ideias mirabolantes, nem reuniões atrasadas, já não havia mais a Renova.... Já não havia mais a Gabi do Planejamento Estratégico... Havia uma saudade, um pesar, uma angústia. Dor de estômago, alergia.

No dia 09/11 eu não derrubei nenhuma lágrima. Minhas gavetas estavam organizadas. Meu back up estava feito. Eu já não trabalhava mais na Renova Energia e estava tudo bem.

O cuco continua no seu tic tac, tic tac. Agora ele marca 23:45 da sexta 18/11. Estou sentada à mesa que já está arrumada para o café da manhã do sábado. Ainda tem uma taça de vinho que restou do jantar e que me acompanha até o final desse texto. E assim a vida segue, um ciclo termina e as vezes dói, mesmo quando a gente não quer olhar, e as vezes demora pra passar, mas sei que um outro ciclo vai chegar, assim que toda a baguncinha estiver devidamente organizada e eu pronta pra próxima.

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As fotos mencionadas se referem a uma lição de casa de um curso que estava fazendo na The School of Life. Eu achava que a foto seria mostrada no curso, ou que eu teria necessariamente que escrever sobre elas, então fui criando racionais para cada clique (quem me conhece sabe o tanto que eu adoro um racional).

Apesar do meu pesar, da dor de estômago, e da alergia eu sempre me importei com o negócio, aliás, essa minha resiliência não me deixa largar o osso, eu não teria desistido sozinha....

Não chorei ao sair da Renova, mas me deu um nó na garganta escrever esse texto que, será mostrado primeiro pra professora do curso que estou fazendo que se chama "como se encontrar na escrita". Cá estou tentando me encontrar, como sempre, como boa libriana. ;-)


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A expectativa nossa de cada dia

A primeira vez que eu abri um coco foi uma experiência intensa, trabalhosa, chata. A ideia inicial era comprar um coco na feira e já ter a sorte de pegar um saquinho cheio de quadradinhos branquinhos lindos. Mas quem acorda tarde e chega no fim da feira não acha mais o vendedor de cocos... O que me restou foi comprar no supermercado mesmo. Coco comprado, fui abrir a querida e deliciosa fruta. Peguei uma faca e tentei martelar o coco, tipo como se eu tivesse fazendo uma escultura, ou uma reforma numa parede, não sei bem, rsrsrs. Nada... Nem sinal da casca do coco se abalar.

Dei um google... Vi um video... Descobri que o ideal mesmo era segurar o coco com uma mão e com a outra ir martelando ele (sim, com um martelo da caixa de ferramentas) em toda a sua extensão. Uma hora ele racha. A água vai caindo toda e por mais que eu quisesse aproveitar tudinho, a casca do coco vai sujando a água que cai de dentro, porque sua mão já está cheia de casca, e ai vira uma lambança, e eu tive aflição de tomar aquele líquido. Depois de aberto a instrução do vídeo era enfiar a faca na poupa da fruta e dar uma viradinha até que ela se soltasse da casca. Tchanammm, e assim foi. Mas tipo, precisa fazer isso umas 20 vezes, ou mais, porque os pedaços não se soltam facilmente. E demora.... E demora... Mas eu estava em busca do meu lanchinho ideal para o meio da tarde, ou para as minhas fomes da madrugada, e todo esforço valeria a pena. Sim, eu to sempre na dieta... Sim, eu ainda preciso de dieta.  E considerando o tanto que eu gosto de comer eu vou precisar de dieta pra todo sempre, amém, rsrsrs. Coloquei o coco no freezer e admito que no fim eu até fiquei economizando os últimos pedaços só de preguiça de abrir outro coco...

NY no inverno

Quando voltei a NY quase 20 anos depois da primeira vez que estive lá com meus pais eu estava muito preparada para dias frios. Tão preparada que eu estava mal humorada antes de embarcar - ok, isso acontece em várias situações da minha vida. Eu tinha certeza que nem seria tão legal assim, afinal de contas, quem pode ser feliz com temperaturas negativas? Como alguém é feliz tendo que pegar emprestado casaco de neve? Por que estava fazendo tanto frio em março? Vou aparecer em todas as fotos com a mesma roupa... Entre outras preocupações e chatices.

Só que foram dias deliciosamente gelados. Numa cidade apaixonantemente linda, com suas árvores peladas, e seus ambientes aquecidos.

Foi demais mesmo, e apesar do fato de eu ter certeza que NY é foda fodástica, eu sei que o fato de eu estar com a expectativa baixa ajudou muito pra que essa viagem fosse tão legal.

De volta ao coco....

Hoje eu abri outro coco. Ele estava na minha fruteira há 2 semanas. Eu olhava pra ele e pensava: pqp vou ter que abrir esse coco. Deixava passar um dia, achava que ia estragar, deixava pro fim de semana, deixava pro dia que a faxineira viesse... Bom, hoje eu abri o coco. Peguei o martelo, separei um bowl pra escorrer a água. Faquinha pra tirar a poupa. Espirra daqui, espirra dali, eu abri o coco, separei nos potinhos, pus aqueles pedacinhos gordurosos e brancos no freezer e pareceu tão rápido. Missão cumprida. Achei tão de boa dessa vez.

Tenho certeza que não criei nenhuma técnica sensacional de abrir cocos, portanto só posso acreditar que a expectativa nesse caso também influenciou, e muito, a minha sensação de missão cumprida.

E aí é isso né... O tanto de expectativa que um "serumaninho" é capaz de criar é uma coisa louca. Eu poderia citar um milhão de exemplos em que a expectativa ferra com tudo, mas vou me limitar a só mais um exemplinho da vida da maioria das pessoas: a expectativa em relação ao outro. Não sei de onde nasce isso, se é uma vontade louca de ser validado, se é um querer de conto de fadas, se é um 'se achar mais importante que o resto do mundo', se é colocar no outro uma importância maior que ela tem (escrevendo aqui e agora acho muito que pode ser isso), mas o fato é que eu já vivi (e vivo) muito isso, e tenho amigos que já viveram, e todos vamos continuar vivendo.... Expectativas em relação a relacionamento amoroso, amizade, emprego, tipo tudo, tudo que tem gente envolvida rsrsrs.

Refletindo sobre esse tema depois de um happy hour com uma amiga acho que ainda vou precisar de alguns anos de terapia pra relativizar as coisas. Sim, relativizar. Dar o tamanho certo pra cada tema da vida. Pra entender que demorar mais 5 ou 10 minutos pra abrir um coco não vai acabar com a minha programação do fim de semana. Entender que hoje em dia as pessoas mandam recados no facebook no dia do aniversário, em vez de ligar como se fazia há anos, e que tá tudo certo - algumas pessoas ainda ligam, mandam mensagens lindas, gravam audios e me emocionam verdadeiramente. Entender que o trabalho é um contrato de prestação de serviço, e ele pode acabar. Entender que não é todo mundo que está interessado em namorar. Entender que até o amigo mais legal tem dias ruins. São tantos exemplos, mas acho que no fim das contas, o mais difícil ainda é entender o tamanho verdadeiro que o outro, ou a coisa, tem na nossa vida. Verdadeiro, não o que imaginamos que eles tem. Ou o mais difícil seria saber o nosso tamanho verdadeiro? Como eu digo de vez em quando: vou precisar de umas duas ou três vidas pra chegar a essa conclusão.