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quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Um pedaço da minha identidade - Vovó Dora

Outro dia estava assistindo ao Papo de Segunda no GNT e o Chico Bosco falava da comoção dos brasileiros com o incêndio no Museu Nacional, ele disse: "... o que as pessoas estão sentindo é uma dor profunda precisamente naquilo que elas consideram que é fundamental pra nossa identidade...". Ele se referia a cultura, a perda dessa identidade do Brasil(eiro) com o tal incêndio....

Isso imediatamente me conectou com a última e recente perda, da qual não fiz alarde pra me preservar, pra tentar passar por cima, como se fosse possível: a perda da minha avó Dora. Quando comento com as pessoas eu digo: ela já estava velhinha, e já não vivia bem (no sentido de saúde, independência, liberdade...) fazia tempo. Eu lembrava e lembro de como seria um egoísmo enorme querer que ela continuasse aqui só pra fazer a gente feliz com a presença dela, ainda que felicidade não fosse exatamente a palavra ao vê-la tão debilitada.

Nossa última foto juntas - mar/2017

Eu já estava me preparando fazia tempo, é verdade, mas também é verdade que nunca estamos totalmente preparados pra perder a nossa identidade. Pensar nisso tudo me faz sofrer. Me dá um misto de tristeza pela perda física, pela perda dos meus tios e primos, uma coisa de alívio por saber que agora ela tá bem, e um buraco da minha identidade que foi embora...

Mas ai eu penso numa coisa que já reflito há algum tempo: eu ainda sou essas pessoas que perdi. É tão certa a história da identidade que de verdade a gente sente o buraco, mas é tão parte de nós que não dá pra achar que minha avó não está mais aqui, porque eu sou ela.

Como falei rapidamente no instagram "todos os meus aniversários e chás de cidreira serão eternamente seus". Se fosse só isso... Além dela também ter nascido no 5 de outubro, e todo ano até o ano passado ser uma guerra pra ver quem ligaria primeiro (kkkk), eu tenho tanto da minha vó. O cheiro do chá de cidreira é ela, e só ela. O cozinhar pra galera. O cuidado com as panelas favoritas. O amar pão. A neurose com o tamanho da bunda. O gostar de ficar de boa e meio quieta. A maneira de tentar maximizar os recursos. O querer saber das fofocas da família rsrsrs. São tantas coisinhas que fazem eu ter certeza de que ela ainda está aqui que quase não me permito ficar triste, porque afinal de contas quem vive 36 anos e ainda tem avós vivos e presentes? Eu tive! Mais sorte que isso é só SER as pessoas que já se foram. Eu sou um pouco Dona Dora e quero muito que ela esteja feliz e bem junto da galera que já partiu dessa vida muito louca....

Vou ali fazer um chá de cidreira pra eu tomar quietinha me conectando com ela. Cheers.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

SDU - CGH | De volta a Sampa

No fundo no fundo eu queria muito ser carioca. Carioca no meu estereótipo do carioca, que é: moreno de sol, saudável, sports lover, e leve. Ficava me imaginando uma mãe linda com uma filhinhos queimadinhos pelo sol, e que tomam suco verde. Me enxergava me tornando uma tiazona saudável, de biquini de lacinho, nutrida por açaí e água de coco. Muitas vezes fui ao RJ a passeio. Muitas vezes achei que aquela sim era a forma equilibrada de se viver. Sempre gostei da leveza, do sair de rasteirinha, do não secar o cabelo e de encontrar a beleza natural das pessoas.


Quando surgiu a oportunidade de ir morar no RJ obviamente me deu um medinho. A segurança está uma bomba... O carioca tem uma fama terrível... Mas sei lá, eu (e o Re também) fomos total de coração aberto. A gente tinha certeza de que todos os cariocas seriam como os nossos amigos cariocas, que conhecemos fundamentalmente enquanto eles moravam moravam em SP.... As pessoas diziam "Rio não é São Paulo", e eu pensava, "mas porra, estamos falando de uma capital, de uma cidade grande, não deve ser tão diferente assim."

Mal sabia eu que "tão diferente assim" era eu.

Muita gente sempre me viu muito parecida com os cariocas. Concluo que o que temos de parecido é a melanina, a apreciação da beleza natural,  e talvez o gosto pelas estampas da Farm, que ainda assim, tenho alguma dificuldade de combinar bem.

Pra além disso, descobri que eu gosto de praia por tempo e temperatura limitados, e meu amor pela infra no geral é tão grande que eu de fato considero o RJ uma boa praia. Não quero ter que fazer trilha nenhuma pra chegar em praia linda, vazia, e água limpíssima. Na verdade eu nem ligo pra dar um mergulho, faço isso muito mais pra "tirar a urucubaca" do que por vontade de me refrescar. Inclusive já saio correndo pro chuveirinho de agua doce, porque odeio o meu cabelo cheio de sal. Também detesto a ideia de ir almoçar direto da praia com o biquini molhado embaixo da roupa. Acho desconfortável, feio, molha tudo...

Esportes? Prefiro com temperatura controlada... Não, não subi a pedra da Gávea, nem o Pão de Açúcar, e nem vou acordar as 5h da manhã pra correr. Não, obrigada!

Eu gosto mesmo é das coisas certinhas. Não quero ter que negociar com o vendedor de zona azul pelo preço de uma vaga, simplesmente porque a vaga tem um preço por um período determinado, fim. Não quero arranjar um jeito, e nem dar uma caixinha, uma cerveja, um almoço. Não quero, porque não é certo. Também acho que quando o carro estiver sujo eu tenho que levar num lava rápido. Não quero que o carro apareça limpinho na garagem do prédio porque não concordo com o funcionário do prédio usar o tempo e a água do condomínio pra fazer trabalho para os moradores.

Me fazia mal morar no bairro mais caro da cidade e ver vasilha de água pro cachorro escrito "I'M THE BOSS" ao lado de um mendigo todo sujo pedindo por comida, dinheiro, água...  Eu ficava nervosa ao ouvir alguém martelando qualquer coisa porque realmente achava que podia ser tiro. E me irritava sempre que precisava dizer que era moradora da cidade ao alugar uma cadeira na praia ou pedir uma água de coco, para assim não ser cobrada como turista (!!!!). Me irritava todas, todas, todas as vezes que um ciclista passava em altíssima velocidade na calçada, driblando idosos, crianças, quase fazendo strikes nos pedestres. Isso não pode ser normal. É pra se acostumar com isso, gente?

Exagero? Pode ser... Pode ser também que os hormônios tenham me deixado muito menos flexível (tenho certeza que influenciaram muito). Mas dia após dia isso vai irritando num nível que eu só conseguia me sentir um peixe fora d'água, uma paulistana séria, dura e inflexível.

Claro que nem tudo foi ruim. No RJ eu aprendi:

  • a fazer compras mais leves pra poder carregar em uma ou duas ecobags e voltar andando pra casa
  • que açaí bom é com pouco xarope e banana batida
  • que não secar o cabelo não mata ninguém, mas que dá um belo up no visual
  • que melanina é a melhor maquiagem, e que não há filtro no instagram que retrate isso tão bem
  • que padaria boa mesmo é a The Slow Bakery 
  • que eu amo SP (já sabia, mas ficou muito mais forte)
  • etc....

Acho que o mais importante disso tudo foi entender que preciso e quero ter por perto algumas pessoas. Que pertencimento demora. Que amizade é dedicação. E que não faz sentido ficar numa situação desconfortável só porque o mundo diz que "é assim mesmo" ou "no fim tudo dá certo" ou "tem que aguentar e acostumar".

Estamos de volta a SP, e voltaremos ao RJ diversas vezes certamente.