Tenho 35 anos e já sinto saudades de 2 avôs e 2 avós.
Lavo a louça com os olhos cheios de lágrimas após uma conversa com a Faustina. Penso na vida dela, nessa rotina difícil de ter o marido numa cama depois de um avc. Penso como é ser a última irmã viva. Penso como é não se lembrar exatamente o que aconteceu na vida de cada irmão. Penso como é se sentir sozinha depois que a filha e os netos vão embora do fim de semana. Penso como é não conseguir dominar o corpo.
Quebro um copo, e fico feliz por não ter sido uma taça de cristal, presente de casamento da Clementina, ufa. Recolho os cacos, e dou mais uma pensada na vida. Organizo a mesa do café da manhã. Volto pra sala e vejo minha avó rezando na cama com o meu avô. Tenho vontade de chorar, mas finjo que está tudo bem. Dou um beijinho nele, e subo.
Ela vem devagarzinho na sequência, com dificuldade pra subir cada degrau. Dá um 'beijinho de boa noite' em mim e outro no Renato. Ela conta como a gente alegra o seu coração, porque a 'solidão mata'. Digo que fazemos muita bagunça isso sim. Disfarço.
Me tranco no banheiro e esqueço que é terça de carnaval. Choro sem dó... Lavo o rosto. Choro. Escuto:
"Bi?"
respondo: oi, já to saindo
"Tá, é que não te dei um beijinho de boa noite..."
Ela esqueceu...
Saio do banheiro escovando os dentes, pra disfarçar a minha cara de choro, entro no quarto da minha avó que não percebe a minha presença e também está escovando os seus dentes. Minutos depois ela se vira, me vê e diz:
"também estava escovando os dentes, hehehe. Boa noite."
respondo: boa noite vó, até amanhã.
"até amanhã, se Deus quiser, dorme com os anjinhos"
Amável, suave, delicado, tocante!
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